Moisés
Foi numa sexta-feira de novembro de 1979. Lembro que no finalzinho do dia, quando começava a anoitecer, caiu uma chuva bem forte. Lembro de ter corrido para fechar a janela do meu quarto e que ficamos sem luz a noite toda. Minha mãe então acendeu velas pela casa - eu tinha medo de escuro. Jantamos e, sem poder ver televisão, fomos dormir cedo.
No dia seguinte, meu pai ouviu um som estranho ao acordar. Parecia um choro resmungado. Mas era sábado e ele preferiu continuar deitado. Alguns minutos depois, ele ouviu aquele som novamente. Levantou-se e, ao abrir a janela da sala, viu uma cachorrinha carregando um filhote, saindo do nosso quintal pelo vão do portão. O som que ele ouvira era choro de cachorrinho. Então, meu pai foi ao banheiro. Quando voltou à janela, viu a cachorra levando mais um filhote. Só que desta vez, ela o viu também e não mais retornou.
No fundo do nosso quintal, ficava a serralheria do meu pai. Aliás, era a única parte do quintal que era coberta. E foi lá que meu pai encontrou um último filhote, que a mãe não voltou para buscar.
Meus pais não queriam cachorro em casa e o filhotinho, que provavelmente nascera na serralheria, foi dado à nossa vizinha. Mas eu queria! E passei um tempão na casa da vizinha brincando com o filhotinho. E fiquei tanto tempo que ela disse que eu poderia levá-lo de volta. Eu tinha 7 anos.
Meu pai deu-lhe o nome Moisés. Por dois motivos: 1) o Corinthians tinha um jogador chamado Moisés; 2) Moisés (Bíblia) foi deixado pela mãe.
Moisés era um vira-lata marrom de porte médio, manso, fiel, obediente. Eu me sentia o seu dono, mas ele não largava mesmo era do meu pai. Certa vez, meu pai teve pneumonia e ficou internado. Moisés passou uma semana sem sair da oficina. Só saiu quando meu pai voltou do hospital.
Tenho muitas histórias pra contar, como quando pulou o muro pra brincar com o pequinês do vizinho e quebrou uma perna, ou quando brigou com o pastor alemão da rua de cima (e apanhou). Mas não ia caber aqui.
Numa manhã de sábado, já velhinho, Moisés caiu do terraço. Gemia muito e teve que tomar uma injeção de morfina. À noite, quando ele morreu eu não estava em casa. Não sei - e nem quero saber - o que foi feito dele.
Moisés morreu há dez anos, em 1996, aos 17 anos. Foi meu parente dos meus 7 aos 24 anos. Uma vida. Até hoje sonho com ele. Muitas vezes sonho que está brincando com meu pai.
Certa vez, alguém disse: "quer ser amado incondicionalmente? Tenha um cão."
Eu tive. E sei o que significa.
No dia seguinte, meu pai ouviu um som estranho ao acordar. Parecia um choro resmungado. Mas era sábado e ele preferiu continuar deitado. Alguns minutos depois, ele ouviu aquele som novamente. Levantou-se e, ao abrir a janela da sala, viu uma cachorrinha carregando um filhote, saindo do nosso quintal pelo vão do portão. O som que ele ouvira era choro de cachorrinho. Então, meu pai foi ao banheiro. Quando voltou à janela, viu a cachorra levando mais um filhote. Só que desta vez, ela o viu também e não mais retornou.
No fundo do nosso quintal, ficava a serralheria do meu pai. Aliás, era a única parte do quintal que era coberta. E foi lá que meu pai encontrou um último filhote, que a mãe não voltou para buscar.
Meus pais não queriam cachorro em casa e o filhotinho, que provavelmente nascera na serralheria, foi dado à nossa vizinha. Mas eu queria! E passei um tempão na casa da vizinha brincando com o filhotinho. E fiquei tanto tempo que ela disse que eu poderia levá-lo de volta. Eu tinha 7 anos.
Meu pai deu-lhe o nome Moisés. Por dois motivos: 1) o Corinthians tinha um jogador chamado Moisés; 2) Moisés (Bíblia) foi deixado pela mãe.
Moisés era um vira-lata marrom de porte médio, manso, fiel, obediente. Eu me sentia o seu dono, mas ele não largava mesmo era do meu pai. Certa vez, meu pai teve pneumonia e ficou internado. Moisés passou uma semana sem sair da oficina. Só saiu quando meu pai voltou do hospital.
Tenho muitas histórias pra contar, como quando pulou o muro pra brincar com o pequinês do vizinho e quebrou uma perna, ou quando brigou com o pastor alemão da rua de cima (e apanhou). Mas não ia caber aqui.
Numa manhã de sábado, já velhinho, Moisés caiu do terraço. Gemia muito e teve que tomar uma injeção de morfina. À noite, quando ele morreu eu não estava em casa. Não sei - e nem quero saber - o que foi feito dele.
Moisés morreu há dez anos, em 1996, aos 17 anos. Foi meu parente dos meus 7 aos 24 anos. Uma vida. Até hoje sonho com ele. Muitas vezes sonho que está brincando com meu pai.
Certa vez, alguém disse: "quer ser amado incondicionalmente? Tenha um cão."
Eu tive. E sei o que significa.
12 Comments:
At 27 de julho de 2006 às 17:57, Anônimo said…
Eu li lá, Camilo. Realmente é aquilo mesmo. A diferença é que, dessa vez, escapei no laser. Só que minha crise, dessa vez, durou um mês inteirinho!!!! Com direito a 2 internações.
Mas acho que me livrei disso agora!!!
At 27 de julho de 2006 às 18:00, Anônimo said…
Sobre o post.
Eu tenho uma cadelinha. Ela não é minha, é da minha mãe, mas é minha também. Casei, mas ela ficou lá. A Meg é uma poodle inteligente (e temperamental). Amo aquela cadela gorda. ELa já tá com 7 anos, quase 8. Tenho muito medo do dia que ela falecer... muito mesmo.
At 27 de julho de 2006 às 18:30, Anônimo said…
Que lindo, Camilo. Adoro, adoro, adoro, cachorrinhos. O meu chamava "thunder" era um pastor. Depois eu tive um macaco, ele me amava incondicionalmente, ele acreditava ser cachorro!
At 27 de julho de 2006 às 20:33, anna v. said…
snif!
At 28 de julho de 2006 às 09:51, Anônimo said…
oi Camilo
Também tive um dog, o Müeller, era um Husky meio burro mas eu adorava aquela bola de pêlos com lindos olhos azuis, até hoje quando lembro dele dá vontade de chorar, e seu post me fez lembrar o que é ter um bichinho como parente próximo.
bjs.
At 28 de julho de 2006 às 11:42, Anônimo said…
É, Camilo, fiquei emocionado com o seu post, pois lembrei-me de duas figuras maravilhosas: a primeira, o "Seu Paraná", gente boa, a quem sempre estimei muito. A segunda, o Moisés. A feição dos dois veio imediatamente a minha mente, mesmo depois de muitos anos. Bons tempos, Camilo. Que Deus abençoe os dois e que um dia possamos nos reencontrar... tenho certeza quanto a isso.
Andrei
At 28 de julho de 2006 às 15:23, Anônimo said…
ERIC, o apego é grande, né? Ah, não se esqueça de beber muita água.
VIVI, acho que teu macaco se identificava com seus micos - rárárárá! Beijo!
ANNA, vc tb? Eu quase não consigo terminar o post.
SALMA, às vezes são melhores que os parentes.
Amém, ANDREI! Abração!!!
At 29 de julho de 2006 às 15:24, Anônimo said…
Vou confessar: sou mal. Só pode ser isso. Uma espécie de Darth Vader. Só isso para explicar o fato de não gostar de animais de estimação. Talvez um peixe no aquário, se bem que acho mais objetivo de decoração do que animal de estimação. Já tive cão, gato. Não gostava. Nunca gostei. Ok, eu disse. Devo ser mal...
Ale Rocha
Poltrona.TV [ o blog sobre televisão ]
http://www.poltrona.tv
At 29 de julho de 2006 às 18:52, Anônimo said…
Eu assino em baixo! Sou o vizinho do Camilo.
Eh... grande lembranças que nos tras grandes saudades . . . !
At 1 de agosto de 2006 às 03:02, Anônimo said…
Lembrei da Manchinha. Que por aqui morou durante dez anos, até morrer. E aí tem sempre aquela lágrima que aparece sem ser convidada.
At 1 de agosto de 2006 às 08:33, Anônimo said…
ALE, vc não é mal. É mau - hehehe. Bem, desde que vc não maltrate os bichos, tá bom.
Aê, ADRI! Muitas saudades...
RODRIGO, que seja de saudade, não de tristeza.
At 18 de agosto de 2006 às 18:39, Anônimo said…
Assim não dá, me fez chorar outra vez...
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